Publicado em: 24/05/2021
Alguns pecuaristas do Brasil Pecuário-Central já
começam a ter a impressão de que os períodos de seca parecem estar se
intensificando, seja por um aumento de severidade ou na duração. Há algumas
simulações que mostram que isso pode ser mesmo efeito das mudanças climáticas e
já escrevemos sobre isso, com o sugestivo título “Seeeeeeeeeeeeeeeeca”.
Esse ano, em vários locais, as chuvas do período
das águas já foram menos intensas e pararam antes da hora. A situação, então,
não é de folga em termos de pastagens, com uma “seca” inteira pela frente. E
não se tem bola de cristal para saber quando as chuvas efetivamente voltarão.
Nesse cenário, é aconselhável ter cautela, em geral sendo melhor agir para
aumentar a chance de sobrar pasto do que arriscar faltar.
Ao contrário do texto que citamos acima, portanto,
esse aqui lida com ações que podem ser tomadas agora para minorar o problema de
falta de pasto e, também, para alertar o que devemos evitar fazer.
Listamos
algumas opções para dar folga ao pasto até que as chuvas voltem:
1.Vender
animais
Essa é a saída mais simples e lógica e, ao mesmo
tempo, a mais impopular. Ninguém gosta de se desfazer de ativos, os bois, que
são os ganhos futuros na atividade. A questão é que, se a manutenção de todos
os animais significar superpastejo, o prejuízo é duplo: os animais terão baixo
desempenho e contribuirão para a degradação do pasto.
2.
Usar rações
A suplementação de pastagens na seca é uma obrigação
no Brasil Pecuário-Central. A questão é que as opções que têm melhor relação
benefício/custo dependem de alta disponibilidade de forragem, mesmo que de
baixa qualidade. Assim, as pastagens diferidas na seca serão os locais onde
essas estratégias podem ser usadas, mas a realidade de muitas regiões é que as
chuvas encurtadas desse verão não permitiram o usual acúmulo de pastagem. É por
isso que uma das soluções é usar uma lotação ainda mais baixa do que os cerca
de uma unidade animal por hectare que temos como referência (e apenas
referência!) nesses casos.
Se o pasto tem baixo volume de massa, o uso do
proteinado, cuja modo de ação é exatamente aumentar a ingestão dos animais,
terá pouco a ajudar se o animal não tiver o que comer. Quantidades um pouco
maiores, como nos proteicos-energéticos, também acabam ajudando pouco. Por fim,
nos preços atuais dos concentrados, não precisa uma proporção muito grande para
deixar a prática anti-econômica, algo que cada um deve fazer os próprios
cálculos.
Ocorre que, mesmo que a conta de uma suplementação
proteico-energético mais intensa, com 5 ou 7 g/kg de peso vivo, se revele econômica,
nessa situação a forragem ainda representa entre 75-65% da matéria seca da
dieta e, nessa situação indefinida entre ser uma dieta francamente fibrosa ou
outra, bem definida como concentrada, a eficiência biológica é pior, algo que
costuma ficar fora da conta financeira.
Para fugir disso, uma alternativa a
ser considerada é o confinamento em pasto, ou semiconfinamento. Nele, usa-se 17
a 20 g de concentrado/kg de peso vivo e o consumo do pasto pelo animal serve
apenas para ele se recuperar do excesso de concentrado, com a fibra de baixa
qualidade do pasto ajudando-o a recuperar, minimamente, a função de ruminar. Um
alerta é que essa técnica, apesar de ter a vantagem de poder ser feita a
qualquer momento e por quase todo mundo, não deve ser feita sem o
aconselhamento de um técnico, pois há risco real de morte de animais por
doenças metabólicas, como a acidose e o timpanismo. Mesmo que não morra nenhum
animal, os resultados podem ser piores do que seriam com a supervisão
recomendada, que vai da formulação da ração e informações fundamentais de
manejo com relação, por exemplo, à adaptação dos animais à dieta, um dos
pontos-chave para o sucesso dessa opção.
Uma vantagem do confinamento em pasto é que as taxas
mais elevadas de ganho ajudam o animal a depositar gordura, sendo, portanto,
particularmente recomendado para animais que podemos terminar e vender, ou
seja, exatamente os que mais vão liberar espaço para os animais que ficam na
fazenda, afinal são os mais pesados.
3.
Usar Volumosos
Em relação à suplementação concentrada, o uso de
volumosos é uma opção bem mais tranquila em termos de segurança de uso, pois,
no ambiente de forragem (alimento fibroso), estamos dando mais volumosos
(alimento fibroso). O operacional é um pouco mais complicado, exatamente
porque, como o próprio nome diz, temos que lidar com volumes maiores para
fornecê-los.
Aqui, é bom lembrar que o menor custo dos volumosos
não necessariamente farão seu uso tão mais barato, pois devemos olhar o custo
deles em matéria seca (MS). Uma silagem de milho que custe, por exemplo,
R$200,00/t de matéria natural, com 67% de umidade, custa R$600,00 por tonelada
de matéria seca (R$200,00/t dividido por 0,33, sendo esse último o teor de MS
de 33% da silagem).
Para categorias que apenas se deseje manter o peso
na seca, como vacas em bom estado corporal, a suplementação com algum volumoso
pode ser vantajosa, especialmente quando se considera o custo diário de
suplementação, pois fornecemos apenas a quantidade necessária para manter o
peso (menos volume), sem conflito entre pasto e concentrado e sem risco de
algum animal comer mais concentrado do que deveria.
4.
Confinar
A pergunta natural depois de considerar a
suplementação com concentrados e, em seguida, com volumosos: não seria vantagem
usar os dois juntos? A resposta é que é perfeitamente possível. Nesse caso,
então, por que já não fazer uma dieta completa, incluindo minerais e aditivos?
E, se fizer, por que já não confinar os animais?
Tentar um confinamento é especialmente interessante
no contexto de reduzir a lotação das pastagens. Um pequeno confinamento de 100
cabeças pode liberar 100 hectares de pasto diferido em bom estado, considerando
o valor de referência citado.
Um
confinamento pequeno pode ser feito de forma simples e, até, meio improvisada,
no que diz respeito à sua estrutura física. Onde não se deve economizar,
contudo, é no seu planejamento, pois é exatamente em saber quanto ele deve
custar e quanto deve produzir por animal que reside uma de suas principais
vantagens. Nesse caso, recomenda-se que o produtor tenha supervisão de técnicos
para planejar e realizar o confinamento. Mesmo que, por ser com poucos animais,
o custo do técnico por cabeça seja muito alto, pode ser mais barato que os
prejuízos pela falta de orientação. Deve-se permitir alguma pressão desse
estreitamento de margem (ou até pequeno prejuízo), considerando essa despesa
como parte do custo do aprendizado que permitirá ganhos maiores no futuro.
5.
Boitel
Essa opção de terceirizar a engorda elimina a
necessidade de investimento. Mesmo que seja para só ganhar a arroba estocada
(as que entram no confinamento com o animal), quando todo o ganho do
confinamento fica para o proprietário do boitel, ainda assim, pode ser
vantajoso. Tem-se a mesma vantagem de reduzir a lotação da fazenda ao vender os
animais no início da seca, mas com a chance de conseguir um preço melhor nas
arrobas que entraram, apostando em uma valorização das arrobas no período do
confinamento. Nesse ano, em que o preço da arroba está já bastante elevado,
parece haver menos espaço para que isso ocorra, mas continua sendo uma
alternativa a ser considerada.
6.
Irrigação
Uma última alternativa seria pensar em irrigar as
pastagens. Sem dúvida, essa é a opção mais complicada. O primeiro alerta é que
a água é apenas um dos fatores de produção de forragem. A irrigação tem tanto
mais chance de alterar a curva de produção de forragens quanto mais próximo da
linha do Equador for a pastagem. Isso porque, nessas latitudes, a duração do
tempo de luz diário (fotoperíodo) é longa o ano todo, bem como as médias de
temperatura são sempre mais elevadas. No Brasil, quanto mais ao sul, menos
diferença faz irrigação na produção da forragem. Ainda assim, mesmo no estado
de São Paulo, podemos ter bons resultados nas épocas em que as chuvas rareiam,
mas ainda os dias são quentes, como no início e final da seca.
Especialmente para essa temporada, um projeto de
irrigação pode ajudar no caso da seca se prolongar e, quando as temperaturas
mais altas do final do inverno permitirem, conseguir ir adiantado a recuperação
das áreas irrigadas.
Ao contrário do confinamento, começar com uma área
muito pequena e ir aumentando é mais complicado. Parece mais lógico, nesse
caso, pensar em uma estrutura cujo tamanho faça o custo por hectare irrigado
ser bem diluído, o que pode implicar em pensar em áreas da ordem de uma centena
de hectares como mínimo. Esse valor mínimo para iniciar já deve fazer parte da
orientação técnica que é fundamental nesse caso.
A opção de irrigar, portanto, é daquelas que precisa
estar no contexto de pensar mais em médio e longo prazo, colocando outros
objetivos no horizonte futuro como, por exemplo, um pastejo mais intensificado
ou até a adoção da produção integrada.
Considerações
Finais
Todas as alternativas acima são apenas sugestões e
podem ser consideradas paliativas. Elas não são excludentes e podem ser
combinadas entre si para minorar a falta de pastagem. Elas apenas apontam
direções. As decisões mesmo têm que ser feitas por cada um em função das
características e circunstâncias locais.
Além disso, como boa parte delas
têm que ser feitas baseadas em expectativa futura incerta, fica ainda mais
difícil separar o certo e o errado. Há, todavia, uma chance do arrependimento
maior ao se ignorar os riscos e amargar perdas, do que se lamentar por ter
podido ganhar mais ao ser prudente. E, se há mais riscos em uma das opções, é
porque ganhar com ela é menos provável. Informação, técnica, experiência e
instinto: é o que contamos nessa hora e que, em longo prazo, deve garantir o
melhor conjunto de escolhas.
Fonte: https://www.comprerural.com/tem-pouco-pasto-veja-o-que-fazer-para-lucrar/
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