Publicado em: 08/06/2021
O Brasil possui a quarta maior área
(158,6 milhões de hectares) e a maior área cultivada (111,7 milhões de
hectares) de pastagens do mundo. Essas
pastagens, direta ou indiretamente, constituem a base da alimentação de
aproximadamente 200 milhões de herbívoros sendo: 171,85 milhões de bovinos;
0,95 milhão de bubalinos; 8,25 milhões de caprinos; 13,77 milhões de ovinos; e
5,90 milhões de equídeos.
Entretanto existe uma
incerteza da real área de pastagens existente. Em 2011, segundo uma fonte,
a área de pastagem era de 190 milhões de hectares. No mesmo ano, outra fonte
publicou um boletim, com cálculos baseados nas fontes da FAO, do USDA, do IBGE
e da CONAB, que a área seria de 171,35 milhões de hectares. Por outro lado, uma
fonte em 2016 determinou que a área de pastagens brasileiras mapeada com
imagens de satélite compreendia entre 165 e 167 milhões de hectares.
Apesar da incerteza em relação à área, o que não se
tem dúvida entre os especialistas é a sua importância para a pecuária nacional.
Estima-se que na pecuária de corte praticamente 100% das categorias animais das
fases de cria e recria e quase 90% da fase de engorda são alimentadas em sistemas
de pastagens, ou seja, as pastagens são a base da cadeia da carne bovina do
país.
Produtividade em arrobas
A pecuária de corte brasileira, que
fundamentalmente explora a terra com a cultura da pastagem, apresentou um
crescimento expressivo, aumentando a produtividade de carne bovina de 1,43
arroba/ha (@/ha) em 1986 para 3,49 em 2017, um ganho de 144%, mesmo
reduzindo a área de pastagem em aproximadamente 20,5 milhões de ha, uma
redução de 11,4%. Esse ganho em produtividade evitou que 230 milhões de ha fossem
desmatados para a produção de carne bovina.
Pastagens cultivadas
Os ganhos de produtividade da pecuária nacional
tiveram como base o aumento da área de pastagens cultivadas em relação a
pastagens naturais, aumentando de 41,3% em 1986 para 70,5% em 2017.
Para dar suporte a essa expansão na área de
pastagens cultivadas foi fundamental a contribuição da EMBRAPA com o lançamento
de seis cultivares de forrageiras do gênero Brachiaria sp, desde
1984, e de sete cultivares da espécie Panicum maximum, desde 1990,
além do lançamento de um cultivar da espécie Andropogon gayanus, em
1979. Outras instituições oficiais, tais como o Instituto Agronômico de
Campinas (IAC) e o Instituto de Zootecnia (IZ), além de empresas privadas,
também contribuíram com o lançamento de novos cultivares. Ainda para dar
suporte à expansão das pastagens cultivadas, houve aumento da área de campos de
sementes de forrageiras, que nos últimos 10 anos cresceu 51,4%.
Uso de herbicidas
A adoção do controle químico de plantas infestantes
de pastagens saltou de 375 mil hectares na década de 70, para 10 milhões de hectares
nos últimos anos, um aumento de 2.977%. Os sistemas integrados de cultivos
agrícolas com a pecuária (ILP, ILPF, IPF), passaram de uma área de 1,8 milhão
de hectares em 2005 para 11,5 milhões de hectares em 2015. Em 1987, não houvera
registro de animais terminados em pastagens de inverno no sistema de ILP,
enquanto em 2017 foram 760 mil, e em 1997 passou de 1 milhão de cabeças.
Melhoramento genético
O melhoramento genético do rebanho por meio de
seleção de raças zebuínas e cruzamentos delas com raças europeias e melhoria
nos índices reprodutivos foram avanços importantes. Para os avanços
conquistados nessa área foi fundamental o aumento do uso de inseminação
artificial, que saltou de 2,7 milhões de doses de sêmen em 1997 para quase 8
milhões atualmente, apenas no rebanho de corte, um crescimento de 177%. Os
programas de melhoramento genético atualmente têm mais de 22 milhões de animais
inclusos no banco de dados e são incluídos anualmente quase 800 mil
animais.
Suplementação
Aumento
e melhoria na suplementação animal em pasto. Na última década, houve um aumento
na produção de suplementos minerais da ordem de 65%, enquanto a produção de
concentrados aumentou 9%. Esse último para atender ao aumento de sistemas
intensivos de engorda em pasto, tais como o já tradicional semiconfinamento e
as inovações dos tipos confinamento expresso e terminação intensiva em pasto
(TIP). Em 1987, não houve registro de animais terminados nesses sistemas,
enquanto em 2017 foram 2,7 milhões de cabeças.
Medicamento
veterinário
Outro avanço foi em relação a adoção e melhoria dos
protocolos de manejo sanitário. Na última década, o faturamento da indústria de
medicamentos veterinários nacional saltou de R$2,7 bilhões em 2008 para mais de
R$4,5 bilhões, um aumento de 64% neste período, sendo a participação de
ruminantes nesse mercado, da ordem de 54%.
Adubação
Entretanto, a contribuição das tecnologias de
manejo da fertilidade e de irrigação de solo da pastagem contribuiu muito pouco
para explicar esses avanços. Por ocasião dos penúltimo e último Censo
Agropecuário do IBGE, de 2005 e 2017, foi levantado que apenas 7,95% e 14,23%,
respectivamente, dos estabelecimentos agropecuários aplicaram corretivos ao
solo. Em nenhum desses censos foram divulgados dados específicos sobre o uso de
corretivos em pastagens. Por outro lado, apenas 2,41%, dos estabelecimentos pecuários
adubaram pastagens e apenas 1,58% do fertilizante comercializado teve destino
as pastagens em 2005.
Pergunta-se: será que desde então esse cenário
mudou? Baseado em dados do Anuário Estatístico do Setor de Fertilizantes
da Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA) de 2014,
relativos ao consumo de fertilizantes em 2013, quando apenas 428 mil toneladas
de fertilizantes foram comercializadas para pecuária, apenas 1,22% da área de
pastagens deve ter recebido alguma adubação (Cunha e Lima Filho, 2014), ou
seja, 98,78% da área provavelmente nada recebeu.
A área de pastagens brasileiras ocupa
aproximadamente 21% do território nacional e 70,2% da área agricultável do
país. Entretanto, nos anos 2012, 2013 e 2014, em média, apenas 1,42% do
fertilizante comercializado foi destinado à aplicação em pastagens (Cunha e
Lima Filho, 2013 e 2014; e Lima Filho e Cunha, 2015).
Quando se analisa os dados dos relatórios dos rallys da pecuária, me parece haver outro
paradoxo, pois, por exemplo, no relatório de 2015, 54% dos entrevistados
afirmaram corrigir e adubar suas pastagens. Extrapolando resultados dos rallys da pecuária para a área de pastagens,
Cunha e Lima Filho (2013 e 2014) e Lima Filho e Cunha (2015) estimaram que
entre 5,9 a 17, 5% da área de pastagem poderia estar recebendo fertilizantes e
que a pecuária estaria consumindo entre 6,45 a 8,79% do total de fertilizantes
comercializados nos anos de 2012, 2013 e 2014. Apesar dessa proporção ainda ser
muito baixa, dada a proporção da área agricultável do país ocupada pelas
pastagens e a baixa fertilidade dos solos explorados com essa cultura, é fato
que a cada ano os pecuaristas têm intensificado seus sistemas de produção por
meio da aplicação de fertilizantes.
Irrigação
Em relação à tecnologia da irrigação do solo da
pastagem, não se conhece quantos estabelecimentos pecuários fazem a sua adoção
e muito menos qual a área de pastagens irrigadas. O que se sabe é que em 2005,
dos estabelecimentos agropecuários, apenas 6,5% irrigavam alguma cultura, o que
equivaleu a 1,3% da área agricultável (IBGE, 2006).
Ocupação
das pastagens
Apesar dos ganhos conquistados, a taxa de lotação
média das pastagens brasileiras ainda é relativamente muito baixa quando se
compara com o potencial a ser alcançado. Segundo o relatório do Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, publicado em 2011
(DIEESE, 2011), em 52,5% da área de pastagem do país a taxa de lotação estava
abaixo de 0,40 unidade animal/ha (UA); 25,1% entre 0,4 e 0,8 UA/ha; 18,3% entre
0,8 e 1,5 UA/há; e em apenas 4% da área tinha taxa de lotação acima de 1,5
UA/ha.
Em cálculos que eu tenho realizado com base no
penúltimo Censo Agropecuário (IBGE, 2006) e em dados regionais, a taxa de
lotação média dos estados onde tenho trabalhado, tem variado entre 0,40 UA/ha,
ou 0,58 cabeça/ha, no Piauí a no máximo 1,40 UA/ha, ou 1,82 cabeça/ha, no
Paraná.
Com base nos resultados preliminares do último
censo agropecuário, a taxa de lotação bovina atual é de 1,08 cabeça/ha,
correspondendo a aproximadamente 0,70 UA/ha. Mesmo se todas as espécies
herbívoras (bovinos, búfalos, caprinos, ovinos e equídeos) fossem alimentadas
exclusivamente em pastagem, a taxa de lotação seria de 1,27 cabeça/ha e 0,80
UA/ha.
As baixas taxas de lotação contribuem para redução
da produtividade da terra de pastagem. Na pecuária de corte, a produtividade de
carne bovina está por volta de 3,49 @/ha/ano com ganho médio diário do
rebanho em pasto de 0,12 kg/dia, já descontados os ganhos alcançados em
confinamento.
Finalmente – Recursos ambientais
Quando os recursos ambientais do Brasil são
explorados com eficiência, pode-se estabelecer altas produtividades em sistemas
de pastagens, com lotação animal entre 2,0 e 20,0 UA/ha, durante o período das
chuvas; produtividade da ordem de 300 a 3,6 mil kg/ha/ano de peso corporal (150
a 1.800 kg de carcaça/ha/ano), com ganho médio diário acima de 0,40 a 0,5
kg/dia apenas com suplementação mineral (AGUIAR, 2011).
Fonte: Compre Rural
https://www.comprerural.com/tecnologias-na-producao-de-bovinos-de-corte-em-pasto/