Publicado em: 01/01/2022
ECONOMIA TERÁ FÔLEGO PARA CRESCER COM INFLAÇÃO EM ALTA
PARA 2022? VEJA ANÁLISE
Segundo pesquisador da FGV, o poder de consumo será menor e
o crédito vai ficar mais caro no próximo ano
Em 2021, a economia mundial foi marcada pelo avanço da
inflação, em todos os setores, inclusive nos alimentos. Dessa vez, a elevação
dos preços não foi impulsionada pelo excesso de demanda, mas pela escassez de
oferta em vários setores que interromperam sua produção por causa da pandemia.
Aqui no Brasil, foi um ano complicado para o consumidor e para o produtor
também.
Exportação de carne bovina teve ano difícil, mas com recorde
de receita e ganho no preço médio, diz Abiec
Custo de produção do leite pode cair no primeiro semestre de
2022, diz Scot Consultoria
Neste segundo ano de pandemia, as medidas restritivas foram
reduzidas e, aos poucos, a economia começou a dar sinais de reação. A taxa de
desemprego, por exemplo, recuou de 14,9% em 2020 para 12,6% no final de 2021.
Mesmo assim, ainda atinge 13,5 milhões de brasileiros.
“O setor de serviços conseguiu funcionar bem melhor esse ano
do que funcionou em 2020. Naturalmente isso tem reflexos no mercado de
trabalho. A taxa de desemprego caiu ao longo de todo o ano, mesmo já fazendo os
ajustes sazonais. Não caiu tanto quando a gente gostaria, mas de certa forma a
situação melhorou. E do outro lado merece destaque a dinâmica da inflação, para
o nosso setor principalmente a inflação de alimentos”, destaca o pesquisador da
Fundação Getúlio Vargas (FGV), Felippe Serigati.
As principais commodities seguiram em patamares elevados no
mercado internacional, como a soja e o milho, o que causou forte impacto no
custo de produção de toda a cadeia de proteína animal. No Brasil, os preços das
carnes dispararam e o consumo interno caiu. Já as exportações bateram recorde,
graças principalmente ao câmbio favorável. A inflação chegou aos dois dígitos,
algo que não se via desde 2015.
“Essa inflação vem muito mais não porque a demanda está
aquecida, mas por um conjunto grande de erupções do lado da oferta. Nós estamos
com escassez e falta de containers em alguns países. No segundo semestre
tivemos quebra de safra, dificuldade de produzir energia elétrica. Nós estamos
falando de um grupo muito grande de obstáculos que acabaram atingindo diversas
cadeias produtivas. Infelizmente o universo agro aqui no Brasil não passou
ileso com esses problemas”, avalia Serigati.
A situação fiscal do governo também refletiu no mercado e
provocou um ano de volatilidade no dólar e na Bolsa de Valores. O desempenho do
agro em 2021, não cresceu como em 2020, mas neste caso tem uma explicação.
“O agro não teve aquele fenômeno de recuperação porque ele
não contraiu em 2020. Além disso, o setor foi prejudicado por questões
climáticas. Se a gente for considerar que o agro não tem uma base estreita como
tem o setor da indústria e de serviços que contraíram em 2020, fica a sensação
de que o agro não foi tão bem como a gente imagina, mas isso está mais ligado a
fatores de fora do setor, como por exemplo, o bom humor ou não de São Pedro”,
diz.
Como vai se comportar a economia em 2022?
O cenário da economia para o próximo ano ainda deve ser
desafiador. A previsão de crescimento do PIB é de apenas 2%, menos da metade em
comparação a 2021. Segundo Felippe Serigati, a inflação ainda seguirá em
patamares elevados e o poder de compra das famílias brasileiras será menor.
“2021 está entregando para 2022 algumas situações desconfortáveis,
entre elas uma inflação elevada e domicílios com menor renda e menor poder de
consumo. O Banco Central para tentar resolver esse problema está fazendo um
forte aperto monetário. Isso vai significar para 2022 crédito mais caro, menor
liquidez, ou seja, não vejo no lado monetário um fôlego maior para o
crescimento”, destaca.
Como não poderia ser diferente, o cenário político também
terá um peso sobre a economia em 2022.
“Vamos passar por um processo eleitoral e como nós vimos
pelo menos nas duas últimas eleições para presidente e para governos estaduais,
certamente a gente vai ter bastante turbulência ao longo do caminho e isso vai
se traduzir num dólar bastante nervoso, que deve oscilar bastante ao longo do
ano ou até um ponto em que o cenário eleitoral já fique mais consolidado”,
projeta.
O setor agropecuário, também deve viver um ano desafiador,
segundo os especialistas. Apesar de mais uma produção recorde de grãos, com uma
safra de 291 milhões de toneladas, alguns setores vão continuar sofrendo o
impacto do custo de produção que pode comprometer a rentabilidade em 2022.
“Tirando algumas regiões do Sul, onde o cenário está mais
favorável este ano, a gente tem um enorme ponto de interrogação em relação aos
custos de produção do setor. Fica a dúvida se o setor terá acesso na quantidade
necessária dos insumos. Se tiver acesso, a que custo? A relação de troca
compensará para o produtor realizar a sua safra em toda a área planejada? Em
outras palavras, o agro não se defrontou pelo menos nas duas últimas safras,
com essa questão de custos tão altos. Então nós temos em 2022 uma situação
nova, um obstáculo novo para o nosso setor digerir”, finaliza.
Fonte: Canal Rural
https://www.canalrural.com.br/economia/economia-tera-folego-para-crescer-com-inflacao-em-alta-para-2022/