Publicado em: 11/02/2021

bem-estar animal tem sido preocupação crescente entre pesquisadores, produtores e consumidores de todo o mundo que passaram a exigir com maior intensidade uma conduta humanitária no tratamento dos animais, no que diz respeito à produção, transporte e abate. Recentemente no Beefday, Gustavo Siqueira um dos grandes responsáveis pelo projeto Boi 777 disse que muitos fatores geram stress no animal, vacinação, curral, troca de piquetes, transporte, pesagem, desmama, etc e a mensagem passada é que se o produtor não se atentar para esse aspecto estará deixando de ganhar dinheiro, é preciso resolver esse gargalo da pecuária de corte.

Há projetos de Pecuária de corte no Brasil que já seleciona e se preocupa com o temperamento, animais dóceis são muito mais produtivos e fáceis de lidar . “Conhecer um pouco do comportamento dos animais e suas reações diante de determinadas situações, trazendo esses conhecimentos para o nosso benefício. Notamos, por exemplo, que o gado Nelore é reativo e não pró-ativo. Algumas vezes ele pode parecer bravo ou assustado, mas na verdade ele é alerta e é capaz de reagir a algum estímulo externo” – Eduardo P. Cardoso Fazenda Mundo Novo.

Se esse estímulo for, digamos, ríspido, ele reage de forma também ríspida. Já um estímulo calmo provoca uma reação tranquila, talvez pela sensação de conforto que o animal sente. Importante ressaltar que o problema não está na fertilidade da fêmea, nos estudos que apresentaremos aqui, mostra a diferença de animais calmos e reativos.

Depoimento do especialista, sobre bem-estar animal

“Os dados são claros, o comportamento dos animais no dia do protocolo de IATF impacta nos resultados de prenhes, é preciso identificar esses gargalos e trabalhar para educar as pessoas que estão a frente do manejo para que os animais não fiquem nervosos e consequentemente irá melhorar os resultados. Também se sabe que que animais mais calmos e mansos, tem maior ganho de peso mesmo estando a pasto, ou seja, o manejo correto dos animais impactará positivamente dentro do sistema” – Prof. Dr. José Luiz Moraes de Vasconcelos (UNESP).

“É fundamental você se preocupar com o bem-estar animal, na verdade nós empregamos muitas biotecnologias e estratégias para melhorar a produção mas as vezes nos esquecemos do básico. Sabemos que os animais herdam o comportamento devido ao ambiente que viveu, temos vários resultados de pesquisas que mostram o impacto negativo de um animal mal manejado dentro da fazenda, e ressalto, toda iniciativa que visa um melhor manejo é valido, vemos resultados em nosso dia-a-dia, quando você entra no tronco para inseminar uma vaca e sai limpo quer dizer que o animal entrou calmamente no brete e consequentemente a chance desse animal emprenhar é muito maior” – Dr. Guilherme Pugliesi (USP).

“Na verdade dentro da reprodução, o pessoal está olhando para o bem-estar só agora porque todos os ajustes de protocolo que poderíamos fazer foram feitos, no começo da década passada as taxas de prenhez com IATF era de somente 30%, então isso não era uma preocupação. Existem raças mais reativas que outras, é fato, e podemos medir isso pela distância de fuga ou a velocidade que as vacas saem do brete, quando vemos uma vaca muito agitada é porque ela está com medo, em contrapartida outras que saem calmamente do tronco são indivíduos mais relaxados. Isso reflete nos hormônios que são liberados durante o processo de manejo, um deles que mais se expressam é o cortisol, ele bloqueia o LH que é o hormônio que faz crescer o folículo ovariano onde são gerados os óvulos da fêmea, impossibilitando seu crescimento, sendo assim a fêmea não emprenha” – Prof. Dr. Gustavo Guerino (UFU).

Estudo com vacas nelore

Fêmeas zebuínas tem sua fertilidade afetada pelo manejo de curral, é o que aponta estudo conduzido pelo Prof. Dr. Gustavo Guerino (UFU de Uberlândia), eles realizaram um estudo para avaliar o efeito do manejo no estresse e na fertilidade de doadoras de embriões Nelore em programa de transferência de embriões. Como resultado a taxa de viabilidade embrionária foi menor no grupo estressado (58%) do que nos animais não estressados (71%;).

Interessantemente, doadoras que receberam mais estímulo de voz, sofreram mais acidentes e foram manejadas por mais tempo ficaram estressadas, expressando uma elevada concentração de cortisol. Essas fêmeas estressadas tiveram uma redução de 19% na viabilidade embrionária comparado com as doadoras não estressadas. Desta forma, um bem-estar deficitário, causando estresse, pode interferir negativamente na eficiência reprodutiva de bovinos, por meio de uma supressão, via cortisol, do eixo hipotálamo-hipófise-gônada (HHG), retardando a liberação de estradiol e diminuindo a frequência dos pulsos de GnRH e LH. Isso mostra o quanto o processo reprodutivo é sensível a interferências do meio, e também o quanto se deve dar atenção a tal procedimento, principalmente em momentos chave como na fase folicular, pré-ovulatória e pós-ovulatória.

Recentes estudos do Prof. Dr. Pietro Baruselli conduzidos pelo Médico Veterinário Gabriel Cunha Cruz da Cria Fértil também confirmaram esse tese, eles mediram a velocidade com que as fêmeas saiam do brete logo após a inseminação através do protocolo de IATF.

O estudo avaliou as fêmeas que saíram do brete andando, trotando e correndo, o estudo de caso foi feito em uma fazenda de gado comercial onde o protocolo de IATF é empregado largamente. Ao final dos experimentos constatou que as vacas com menor velocidade de saída do brete de contenção no início do protocolo de IATF (D0) apresentam maiores taxas de prenhez à IATF.

importância da vaca Nelore para o sistema produtivo brasileiro é enorme, ela que concebe a heterose nos cruzamentos e muitos criadores já fazem melhoramento genético em suas fêmeas de reposição. É importante ressaltar que a vaca não é braba, mas sim o manejo que a torna reativa, por isso a importância do treinamento da sua equipe para o melhor manejo e bem-estar animal.

 

Fonte: Compre Rural

Comprovado: Vaca braba não emprenha