Publicado em: 01/02/2021
A expressiva alta
no preço da carne bovina, em meio à perda de renda da população brasileira
durante uma pandemia, levado a uma mudança no açougue de alguns supermercados
de São Paulo, principal mercado consumidor do Brasil.
Cortes até então gerais a produtos como carne
moída e espetinhos estão sendo oferecidos na natura como alternativa às opções
mais tradicionais, como coxão mole e acém – cuja alta em 2020 passou de 35% no
varejo paulista, segundo do Instituto de Economia Agrícola do Estado (IEA).
“Nós observamos um comportamento de maior consumo da aranha,
ponta do peito e outros cortes que também têm boa qualidade, mas preço muito
baixo”, aponta Rodrigo Mariano, gerente de gestão corporativa da Associação
Paulista de Supermercados (Apas).
Segundo o economista, são cortes que não compõem a cesta de
produtos analisada pelas instituições que calculam a informação, como o IBGE e
a FGV, mas que também subiram de preço no último ano. A diferença,
contudo, está no valor absoluto dessas opções.
“O consumidor não tem uma comparação anterior do preço da aranha
bovina na cabeça dele. Quando ele chega no mercado e vê R $ 25,90 o quilo,
leva porque faz comparação com a carne que ele consumia. Se ele comparasse
com quanto aumentou a aranha, talvez não consumiria ”, reconhecer Mariano.
Ele cita, ainda, cortes como a bananinha e o vazio, nomes
incomuns de serem encontrados no açougue, mas coletados de pedaços bem famosos,
como o contra-filé e a maminha. No caso da aranha, a carne é obtida a
partir de alcatra e, muitas vezes, é revendida pelos açougues.
“A peça é muito pequena e,
muitas vezes, é usada como subproduto dentro da indústria, para carne moída, ou
vendida para as indústrias de mortadelas, hambúrgueres. Então, é um
recorte industrial ”, explica Paulo Belicanta, dono de frigorífico e presidente
do Sindicato de Frigoríficos do Mato-Grosso (Sindifrigo-MT).
Segundo ele, a saída encontrada pelo varejo para contornar a
retração no consumo de carne bovina após a forte alta dos preços é uma inovação
singular. “É um caso tão específico e tão singular que eu mesmo não sei o
que estou fazendo, dentro da minha empresa, com esse corte”, revelação o
estudante.
Alguns frigoríficos maiores, contudo, já ofereciam o
corte. Caso da Marfrig, que comercializa o produto com marca própria em
redes de atacado. “Esse corte sempre existiu, porém, é pouco encontrado em
supermercados comuns, e, sim, em atacado-varejistas”, explica Luciano Borges,
diretor comercial de atacado da empresa.
De acordo com ele, a disponibilidade dos produtos depende da
região e do ponto de venda que o consumidor estiver. “Existe uma enorme
variedade de cortes bovinos, mas nem todos são encontrados facilmente”,
complementa o executivo.
Rodrigo Mariano, da Apas, diz que a iniciativa de apresentar
esses cortes ao consumidor final é uma estratégia do próprio varejo, que viu o
consumo retrair de forma expressiva no final do ano passado. São redes que
possuem estrutura própria para desossa e, internamente, fazem essa separação.
Ele destaca, contudo, que essa movimentação deve ser transitória, uma vez que os preços esses cortes também tendem a subir conforme aumente o consumo. “Esse é um comportamento momentâneo porque, para ter mais cortes, precisa de mais bovinos. E o problema atual não é só de demanda da carne, mas da cabeça do boi ”, conclui o economista.