Publicado em: 13/11/2023
Uma das maiores referências na pecuária de corte brasileira, a Agropecuária Kehrle é reconhecida por sua prática da “pecuária regenerativa”; Desenvolvendo sua atividade ela alcançou a marca de 1000 UA´s/ha com rotação de pasto Pecuária de corte brasileira é reconhecida pela criação de animais a pasto, tendo em vista a vasta área destinada a atividade, além das condições que permitem o desenvolvimento do sistema. Por isso, fomos descobrir como uma propriedade rural se tornou referência no sistema intensivo de pastagem. Hoje, vamos falar de um dos precursores da técnica de pastejo ultradenso no País: os produtores Marcos Spinella e Aline Kehrle, da Agropecuária Kehrle, no município Aliança do Tocantins (TO), a qual é dedicada a esse sistema. Enquanto a lotação média é de cerca de um bovino por hectare na pecuária brasileira, muitos produtores tentam ganhar mais produtividade, multiplicando até quatro vezes esse número. Agora, já imaginou multiplicar essa lotação em até 1.000 vezes? Confira abaixo os detalhes. “Localizada em Aliança do Tocantins, Brasil, somos uma fazenda familiar de cria de gado que utiliza métodos ecológicos de criação, respeitando os animais, o ecossistema e nossa comunidade”, afirmam os pecuaristas.
Entre os inúmeros produtores que atuam no Estado, está a pecuarista, formada em veterinária, Aline Kehrle, que tem uma fazenda de criação na Aliança do Tocantins. Com influência da família, que possui fazenda no Tocantins desde a década de 80, Aline está nesta atividade desde 2013, quando assumiu os negócios do avô. E desde então, juntamente com o esposo Marcos Spinella, tem tocado o negócio com uma visão sustentável, trabalhando com uma agropecuária regenerativa. A Fazenda Guará, fundada em 1985 no Tocantins, é pioneira em técnicas avançadas como transferência de embrião e inseminação artificial, além de práticas inovadoras no manejo de água. Mantendo sua tradição de inovação, a fazenda agora adota métodos de gerenciamento e manejo que são ambientalmente harmoniosos, inspirando-se na natureza.
“Trabalhamos com agropecuária regenerativa, sistema de pastejo ultradenso, que é algo bem diferente. Usamos um conceito do biólogo Allan Savory, que imita as manadas silvestres africanas com relação à maneira como eles pastam, usamos esse conceito com o gado. Essa é a principal característica da nossa propriedade hoje, trabalhar com o sistema a pasto, bem intensivo”, relata a pecuarista Aline Kerhle. Seu conceito de pecuária foca em integrar-se ao ecossistema, não em dominá-lo, buscando criar animais de genética superior enquanto regeneram o solo e aumentam a biodiversidade da fauna e da flora.
Este objetivo é apoiado por uma estratégia baseada em seis eixos principais, segundo a Agropecuária são eles: GESTÃO HOLÍSTICA: nosso sistema de gestão se baseia na filosofia de gestão desenvolvida pelo biólogo do Zimbabwe Allan Savory, em que nossas decisões importantes são testadas não somente pelo prisma econômico, mas também ecológico, social e o impacto na nossa qualidade de vida.
ULTRA DENSO: Utilizamos um sistema de manejo de pastagem rotacionado de alta densidade, que imita o comportamento natural de rebanhos selvagens. Com isso buscamos usar o rebanho de bovinos como ferramenta de recuperação de pastagem e solo, ao mesmo tempo em que oferecemos a eles sempre pasto fresco da melhor qualidade. Nossa densidade é de aproximadamente 1000UA´s/ha instantânea, com quatro mudanças diárias de piquete. KEYLINE DESIGN: Usamos a técnica desenvolvida pelo australiano P.A. Yeomans para planejar nosso sistema de captação da água da chuva, visando pacificá-la e conservar água e solo. Este sistema também nos orienta em onde colocar nossa estradas, cercas e árvores, sempre buscando aproveitar ao máximo a chuva abundante que cai no período das águas para não faltar no longo período de seca do cerrado.
GENÉTICA ADAPTADA: Selecionamos nossas vacas e touros para ótima conversão a pasto, Buscamos um animal precoce, fértil, rústico e carne com bom marmoreio e área de olho de lombo. Selecionar como faz a natureza, sem critérios estéticos e priorizando a capacidade de produção e baixa manutenção. HOMEOPATIA: combatemos a mosca do chifre e carrapato com homeopatia, e somente em casos extremos com alopatia. Buscamos desta maneira manter o esterco bovino vivo, evitando a sua “mumificação”. Alguns alopáticos matam insetos como o besouro “rola-bosta”, inseto que nos ajuda a controlar a larva da mosca do chifre e na fertilização do solo.
BEM ESTAR ANIMAL: lidar com o gado de maneira tranquila sem lhe causar stress é uma prioridade para nós. Nossos funcionários são anualmente treinados na técnica “Manejo Nada nas Mãos”. Para movimentar o rebanho no manejo de curral, os vaqueiros não usam bandeira, pau ou choque, usam somente o movimento do corpo. Isso exige treinamento e conhecimento da psicologia do gado, e devido a isso, juntamente com o manejo ultra denso, nossos animais são mansos e acostumados com a presença humana.
Números alcançados com o sistema ultra denso de pastagem pela Agropecuária Kehrle A fazenda que mantém um rebanho de cerca de 4 mil animais, sendo 2 mil matrizes Nelore, tem conseguido achar o ponto certo de ajuste, num sistema muito recente. Na propriedade, que há sete anos conseguia sustentar uma densidade de até 60 UA por hectare, há cerca de oito meses já aumentou para a 1.000 UA por hectare.
“Contra fatos não há argumentos. Então, quando as pessoas vão percebendo que de fato existe uma melhora, que aquilo tá evoluindo, elas embarcam na sua ideia e eu acredito que isso é um dos maiores indicadores, para mim, de que tá dando certo”, afirma Aline.
Um pequeno vídeo feito por um drone, o qual mostra a cena impressionante do gado saindo de um piquete e ocupando um outro. Em pouco tempo, os animais se distribuem uniformemente e instantaneamente na nova área, aproveitando todo a área de capim em um manejo de adensamento de animais que chegou a exatos 2.369 animais – 1.517 unidade animal (UA) – uma lotação impensada na pecuária tradicional brasileira. Spinella lembra que há lotações até maiores, chegando até 3 mil bovinos por hectare.
Conclusão Um mito constantemente afirmado sobre as produções sustentáveis ??e que respeitam o bem-estar animal, é que não é possível produzir em larga escala. Com mais de três mil fêmeas reprodutoras, Aline Kerhle discorda. “É totalmente possível, nós somos uma propriedade média/grande e não há limitações. Existem fazendas trabalhando com 20 a 30 mil cabeças, trabalhando nesse sistema fora do Brasil, o tamanho da produção não é problema. Muitas vezes, isso é questionado por causa de alguns tipos de agropecuárias como agroflorestas ou sistemas orgânicos que são dificilmente escaláveis, o que não é o caso, porque esse sistema se trabalha com manadas, então por aí já se pode imaginar que dá pra trabalhar com grandes escalas”, complementa.